"Quem me confia em olhos,

               Nas meninas dele vê

                    Que meninas não têm fé."

 

                                   Camões.

               

Ubirajara Sá
"Três âncoras deixou Deus ao homem: o amor da pátria, o amor da liberdade, o amor da verdade."
Textos
Lisboa, Velha Cidade


Ruas limpas, sem poeira
Calçada cheia de cocô de cão...
Besteira! Tudo besteira...
Morre o povo; cresce a corrupção.
O Cavaco que fere no corpo
À alma invade como um corvo.

Vê-se nas ruas ricos em multidões
Pobres que s’escondem em buracos
Carrões, vinhos nobres e casarões
Na Europa rica, não tem barraco!
Os brancos pobres fogem do país
Os ricos fingem ser luz e raiz...

No Cais passeiam, aos domingos,
Toda a nação de imigrantes
Cães, clãs, “miúdos” e flamingos
Lá stá o munumento dos viajantes
Mais à frente a Torre de Belém
Fotógrafos e mais fotos do além...

Irmãos, irmanados pela mesma causa
Bares que oprimem quem por ali passa
Suntuosas mesas que riem sem pausa
Transeuntes transgênicos e a devassa...
Lisboa, velha cidade de encantos e beleza
Cais doirado, onde se esconde a pobreza!

Uma loira que passa toda bem vestida
Botas, óculos escuros, casaco de pele,
Com um cão de metro e meio; enrustida
De rica ou baronesa ou madeimoselle...
Chama atenção pelo andar macio...
Pernas juntas, olhar distante, e o frio...

Enquanto isso, os céntimos se acabam
Um chuchu, lacrado em papel de seda
Custa o olho da cara; os ricos enrabam
E os pobres, fantasmas, choram a perda
Dos euros que já nada vale na Inglaterra
E na Grécia se afunda debaixo da terra...

Ubirajara Sá
Enviado por Ubirajara Sá em 21/03/2012
Alterado em 23/03/2012
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.
Comentários
Site do Escritor criado por Recanto das Letras

     "Oh! Não te espantes não, Dom Antônio, 

     Que se atreva a Bahia

     Com oprimida voz, com plectro esguiu

     Cantar ao mundo teu rico feitio, 

     Que é já velho em Poetas elegantes

     O cair em torpezas semelhantes."

                                                            Poesias Satíricas - G. de Matos.

 

     Uma Canção

 

         "Uma canção ao longe... É um mendigo que está cantando...

                                                  Se esse pobre canta,

                           por que blasfemas, tu que possuis tão

                              doce recordação da vida, amigo?"

                             Cem poemas chineses - Hugo de Castro.