"Quem me confia em olhos,

               Nas meninas dele vê

                    Que meninas não têm fé."

 

                                   Camões.

               

Ubirajara Sá
"Três âncoras deixou Deus ao homem: o amor da pátria, o amor da liberdade, o amor da verdade."
Textos
As Pedras que nos Acompanham.
 
 
Quando as pedras nos atrapalham o caminhar
Temos que dar voltas, mas nunca retornar
A vida guarda-nos para ela de forma estranha
A morte aguarda-nos sonsa e cheia de manha
Andamos no fio da navalha, na corda bamba
Somos a folha seca que, ao deixar sua árvore
Acompanha o vento e cai bem distante, à sombra
Sem rumo, sem serventia, sôfrega pedra, mármore!
E, se morta, mas bem tratada, está sempre radiante
Seu espírito suporta o tempo, um eterno gigante
Inda que mãos firmes às vezes nos segurem
Caminhamos sem destino, sem tino, sozinhos
Teremos companheiros e amigos em algures
Seremos eternos passageiros em mundos vizinhos
Mas não nos conheceremos; só sabemos; só sabemos
Cada qual na sua morada, sem viver, no nada
Uns olham para os lados, outros para os extremos
Lado-a-lado, jutos, no caminho e mesma estrada
Não se veem; não se falam; não se abraçam; caem
Como a folha seca que a ventania deixou sem guarda
Sem vida, sem sangue os corações se esvaem
Vem a tempestade e o mundo, e com ela as pedras
Barrancos que se fazem muros intransponíveis
Trôpegos, caminhamos até à luz que nos impõe regras
Amedrontados, sem saber o que nos aguarda
Pisamos macio, às escondidas, como invisíveis
Somos seres amedrontados, pó na enxurrada
Sem sombra, sem vida, almas imprevisíveis
Caminhamos com medo, tropeçando aqui e ali
Somos frutos podres, azedos, e, às vezes, dóceis
Ele ensinou tudo o que sabia aos apóstolos e a Eli
Se ainda não aprendemos amar e não ser precoces
Demo-nos as mãos e caminhemos sempre juntos!
Porque o amanhã virá, e a cobrança será justa
Quantas pedras virarão apodrecentos pés de juncos
Enquanto, a passos largos, vivendo ricos e à custa
De meeiros que de nada tinha em dinheiro ou fazenda
Só pedreira, pedregulhos e agrestes espinhos no caminho
Era um ninho da pequena e agonizante merenda
Dos porcos espinhos; dos espinhos porcos vistos no ninho
E todos mortais, abençoados que fomos um dia
Rezamos Ave-Maria por três dias; por nove dias; noite fria
De um Pároco em sua santa Igreja, em sua mesquinha Abadia
Aleluia! Que nossas pedras se levantem nas noites de urgia! 
Ubirajara Sá
Enviado por Ubirajara Sá em 08/04/2013
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     "Oh! Não te espantes não, Dom Antônio, 

     Que se atreva a Bahia

     Com oprimida voz, com plectro esguiu

     Cantar ao mundo teu rico feitio, 

     Que é já velho em Poetas elegantes

     O cair em torpezas semelhantes."

                                                            Poesias Satíricas - G. de Matos.

 

     Uma Canção

 

         "Uma canção ao longe... É um mendigo que está cantando...

                                                  Se esse pobre canta,

                           por que blasfemas, tu que possuis tão

                              doce recordação da vida, amigo?"

                             Cem poemas chineses - Hugo de Castro.