"Quem me confia em olhos,

               Nas meninas dele vê

                    Que meninas não têm fé."

 

                                   Camões.

               

Ubirajara Sá
"Três âncoras deixou Deus ao homem: o amor da pátria, o amor da liberdade, o amor da verdade."
Textos
Minha Terra; Minhas Lembranças
Minha terra tinha muitos pés de mangueiras
Tinha mangas rosa, carlota e espada...
Lá eu corria pelas matas, por veredas e capoeiras;
Atravessava fronteiras, ruas largas e estrada...
Minha terra tinha rios, mares e lagoas;
Também tinha cajus, umbus e cajás...
Lá eu vi o eclipse do sol, tive escravos e patroas;
Vi crianças nascerem, e, no parto, o que se faz...

Minha terra tinha pássaros, galinheiros e pocilgas
Tinha porcos que gemiam ao coçar suas barrigas...
Na minha terra se acordava com o canto do galo
As aves da minha terra: papa-capim, sabiá, juriti,
Curió, canário, cardeal cantavam pra mim...  E eu falo
Tudo que me vem à mente e tudo que aprendi...
Na minha terra tinha mangue e muito mato...
Caranguejo, cobra, leite fresco... Tudo era farto!

Na minha terra eu briguei, nadei, apanhei e dei porradas;
Chorei, fiquei sozinho, tomei conta e criei...
No rio, da minha terra, quase morri, mas aprendi a dar braçadas
No mar catei mariscos, peguei aratus e pesquei...
Na minha terra eu estudei e fiz a primeira comunhão;
Subi em árvores, vivi só, brinquei com o meu irmão...
Na minha terra eu rezei, corri “pecula” e subi em pau-de-sebo;
Foi quando ganhei dinheiro, bacalhau, frutas e o degredo...

Na minha terra eu era triste, mas guardava esse segredo
Não queria que alguém soubesse por que eu sentia medo...
Criança, de sete anos, trabalhava para ajudar na casa;
Era a cria mais nova da prole, fecundado em cova rasa...
Inda cedo, muito cedo já sabia da verdade crua e nua...
Estudava por mim mesmo, ao invés de andar na rua.
Na minha terra eu era triste, mas fui escravo e fui rei.
Saí, e residi aonde andava; corri o mundo, mas voltei.
Ubirajara Sá
Enviado por Ubirajara Sá em 16/01/2011
Alterado em 16/01/2011
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     "Oh! Não te espantes não, Dom Antônio, 

     Que se atreva a Bahia

     Com oprimida voz, com plectro esguiu

     Cantar ao mundo teu rico feitio, 

     Que é já velho em Poetas elegantes

     O cair em torpezas semelhantes."

                                                            Poesias Satíricas - G. de Matos.

 

     Uma Canção

 

         "Uma canção ao longe... É um mendigo que está cantando...

                                                  Se esse pobre canta,

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                              doce recordação da vida, amigo?"

                             Cem poemas chineses - Hugo de Castro.