"Quem me confia em olhos,

               Nas meninas dele vê

                    Que meninas não têm fé."

 

                                   Camões.

               

Ubirajara Sá
"Três âncoras deixou Deus ao homem: o amor da pátria, o amor da liberdade, o amor da verdade."
Textos
Casmurro

Andei a pé pelo mundo do meu eu
Esfolei a sola por espinhos que não criei:
Pontiagudos, afiados; como alguém me deu...
Engoli calado, aprumado, agonizei...
Com uma venda e uma mordaça
Enxerguei a fumaça, mas nunca falei...

Quantas tranças eu trancei para o tempo parar...
Tinha medo do tempo afiado, do brado
Que vinha do lado de lá
O tempo que passa por passar
Era o traslado maldito da hora, do dia
Que via em mim um peão de xadrez,
Cruzando o tabuleiro do tempo.
Acéfalo na vida que perdeu a vez
De extinguir-se por fobia...

Por ser temporão, muitas vezes sofri!
O sofrimento acalanta os fracos e os fortes...
Corta-lhes os laços que os prendem, ri!
Que morram os fracos; que vivam os magotes!
É o tempo que dita as normas da gente:
Quanta vida que vive, se vê diferente...
E eu preso por laços e cordas...
Um fraco, uma corda, um pescoço ...a horda.

A lei condena, à pena, um penoso augusto
Senhor de cartola, que, no sol, pede esmola
Lustro na lapela, bolso repleto, e o busto
Forte, no pedestal, adora o trono e a estola
Faz-se venerável, senhor do momento,
Enquanto choram, as senhoras no templo...
E eu mudo, criado; ou criado mudo,
Do lado, suado, oprimido, casmurro.
Ubirajara Sá
Enviado por Ubirajara Sá em 04/03/2010
Alterado em 04/12/2014
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     "Oh! Não te espantes não, Dom Antônio, 

     Que se atreva a Bahia

     Com oprimida voz, com plectro esguiu

     Cantar ao mundo teu rico feitio, 

     Que é já velho em Poetas elegantes

     O cair em torpezas semelhantes."

                                                            Poesias Satíricas - G. de Matos.

 

     Uma Canção

 

         "Uma canção ao longe... É um mendigo que está cantando...

                                                  Se esse pobre canta,

                           por que blasfemas, tu que possuis tão

                              doce recordação da vida, amigo?"

                             Cem poemas chineses - Hugo de Castro.