Textos
A Mulher, a Sombra e a Dor
Mesmo que suas mãos secas e crespas
Escorreguem por aquele seu corpo
Decrépito e necessitado de amor
A dor do seu esqueleto voa como vespas
Em busca do homem que cure o morto;
Instinto de uma mulher que morre de dor.
Doentes e sofridos, caminham sempre a sós
Cavando a terra no deserto que fere...
Ama, mulher! Ama, pois o amor ajunta!
Na cripta bruta que vive como móis
Encravadas nas rochas; a vontade infere
Que a precariedade à noite assunta!
No mato, roçando, carpindo, ouvindo
pássaros que cantam melodias imortais
Os casais dispersos, sol a pino, cavam
A dor, sentindo a hora da ceia: meio
Kilo de farinha e meia pataca de seio
Magro que a sombra olha sem receio; tinindo
Como espécimes sem sentidos, anormais,
Esquecem o que fere a dor e encravam
Na pele o sentimento de amor; esquecidos;
Como a farinha no pote, sem dote, sem sorte
Ela e sua sombra dormem sem cor, como uma flor...
E os pássaros vadios, dois a dois escarneiam
Da pobre coitada que sonha, encostada, na grande
Árvore frondosa, sonhando, sonhando, sonhando...
Enquanto sua sombra a desperta: - hora certa!
- Vamos embora! O sol se pôs. Já não tenho a quem
Fazer companhia! Vá dormir! Amanhã será outro dia.
E eu serei o homem, a companhia que você terá
Para sempre; no ventre, na alma, no corpo nervoso
Espinhoso e magro como a morte que lhe espreita!
Deita! Deita o seu corpo sobre o lastro que lhe enfeita!
Ubirajara Sá
Enviado por Ubirajara Sá em 14/04/2012
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