"Quem me confia em olhos,

               Nas meninas dele vê

                    Que meninas não têm fé."

 

                                   Camões.

               

Ubirajara Sá
"Três âncoras deixou Deus ao homem: o amor da pátria, o amor da liberdade, o amor da verdade."
Textos
Da Janela
 
 
Um dia abri a janela e ouvi um pássaro
Não sabia de qual lado vinha aquele som
Despertar d’alvorada, alguém me chama
Clamor de esperança e fim de um látego
Que corta a alma d’ um moço sem dom,
Mas que ouve a vida que lhe reclama.
 
Um dia abri a janela e vi o carro de boi
Suas rodas gemiam; e cantavam melodia
Que só o boiadeiro conhece; e canta junto:
Heia boi! Rá! Feliz o boiadeiro ria e se foi
E eu chorei... porque era lindo o que via
E eu hoje choro pelo boi que é defunto!
 
Um dia abri a janela e escutei o galo cantar
Era madrugada, e o galo cantava cedinho
Quando Jesus nasceu o galo cantou bem alto!
Pulei da cama, tomei café e rezei no altar
Já era hora da professora cruzar o caminho
Que a levava a escola no chão sem asfalto.
 
Às vezes se é surdo; não se quer escutar
De que adianta sonhar; morrer adiante
Diante de tanta vida por viver em nada
O que é nada está entre o céu e o mar
Está na ausência da amiga, da amante
É fim do que se busca, é fim de jornada
 
Mas, um dia, ao abrir a janela fiquei triste
Pois o que ouvia, depois não mais escutei
Estava longe de onde as coisas aconteciam
Hoje galo não canta; boiadeiro não existe
Tudo que vivi acabou; acaba porque é da lei
Vivemos n’um sonho que nos fantasiam.
 
Ubirajara Sá
Enviado por Ubirajara Sá em 16/03/2013
Alterado em 04/03/2014
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     "Oh! Não te espantes não, Dom Antônio, 

     Que se atreva a Bahia

     Com oprimida voz, com plectro esguiu

     Cantar ao mundo teu rico feitio, 

     Que é já velho em Poetas elegantes

     O cair em torpezas semelhantes."

                                                            Poesias Satíricas - G. de Matos.

 

     Uma Canção

 

         "Uma canção ao longe... É um mendigo que está cantando...

                                                  Se esse pobre canta,

                           por que blasfemas, tu que possuis tão

                              doce recordação da vida, amigo?"

                             Cem poemas chineses - Hugo de Castro.